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CASAS DE CAMPO DO JUNQUEIRINHO, ECO-TURISMO -
PRÉMIO DE ARQUITECTURA PAISAGISTA "TAIPA 2 - ARQUITECTO PAISAGISTA"

LOCALIZAÇÃO:  Santiago do Cacém, Portugal

DATA: Junho, 2014

 

 

1. CONTEXTO DO PROJECTO

 

  Projecto  elaborado no âmbito do PRÉMIO DE ARQUITECTURA PAISAGISTA "TAIPA 2 - ARQUITECTO PAISAGISTA" (CASAS DE CAMPO DO JUNQUEIRINHO, ECO-TURISMO).  O concurso teve como objectivo a elaboração de um projecto de arquitectura paisagista para a uma unidade de alojamento em Santiago do Cacém, em pleno espaço rural alentejano.

  A área afecta ao concurso, com relevo acidentado, é sobranceira a um pequeno vale com uma linha de drenagem natural (com água uma boa parte do ano). A análise do coberto vegetal da envolvente - áreas tipicamente pontuadas por Sobreiro (Quercus suber) e a Azinheira (Quercus ilex rotundifolia) - remeteu-nos de imediato para para as pastagens semi-naturais características desta região - os montados.

  Na meia encosta do referido vale, virada a Oeste, foi construída a casa em taipa vocacionada para o eco-turismo, proporcionando aos utentes uma vista única para a paisagem envolvente. Por outro lado, do lado Este a existência de uma densa mancha arbórea cria uma zona mais sombria de carácter completamente diferente, relevante para o projecto.

 

2. CONCEITO DO PROJECTO

 

  REUNIR e CONJUGAR.

  Com esta proposta, pretendeu-se reunir os principais elementos paisagísticos e as características do ambiente rural alentejano e conjuga-los num espaço de carácter mais íntimo, confortável, cuidado, mas integrado na paisagem envolvente. O objectivo da proposta foi que os hóspedes pudessem ter a possibilidade de se sentir em plena paisagem alentejana e que a conseguissem identificar no espaço envolvente. 
 A proposta focou-se nos  clientes-alvo da unidade de alojamento: que procurariam um sítio diferente do normal, com um carácter muito próprio, em harmonia com os sistemas da paisagem envolvente - e não uma "ilha" igual a tantas outras, plantada no meio do alentejo.

  O conceito esteve intrínsecamente ligado a uma ideia de belo natural da paisagem. Abordagens como a da escolha de espécies nativas, do crescimento semi-livre da vegetação, de um corte faseado dos prados, da criação de zonas de alagamento junto à linha de água, permitem muitas vezes recriar as condições (à escala do jardim) para o habitat de fauna e flora que naturalmente acaba por povoar esses espaços.

 

3.  ÁREA ENVOLVENTE À CASA

 

  Após análise do projecto de arquitectura, apresentaram-se como sugestões o alargamento da área de pavimento permeável envolvente à casa e o reposicionamento da piscina, alinhando-a com a área coberta pela pérgola.

  A escolha de deck de madiera para esta área deve-se ao facto de ser permeável e permitir facilmente  resolver o problema das cotas, sendo nivelado pela soleira da porta, permitindo assim o acesso a utentes com maiores dificuldades de locomoção. O seu modo de implantação permite a preservação das pré-existências arbóreas.

  Propôs-se uma área de deck mais extensa do que a inicialmente prevista: para permitir a circulação à volta de toda a casa, servir de apoio à piscina e às zonas de estadia (tanto a zona coberta pela pérgola, bem como os bancos existentes junto à casa) e criar condições para refeições ao ar livre ou outras actividades de lazer, na área mais ampla a Sul da casa.

  Foi ainda sugerida uma alteração ao perfil do terreno à frente da piscina, de forma a suavizar um pouco a descida, evitando um desnivel quase vertical; esta intenção está bem exemplificada na maquete apresentada.

 

4.  CAMINHOS E ACESSOS

 

  No que toca aos acessos, o principal caminho desenhado é aquele que permite o acesso automóvel até bem perto da casa, terminando numa zona de estacionamento junto ao deck de madeira. Dado tratar-se de um caminho exclusivo para os hóspedes, este permite tanto os carros como os peões. O acesso ao caminho público faz-se portanto no extremo sudoeste; o traçado biomórfico pretende aproveitar as formas do terreno, enquadrando-o melhor na paisagem e suavizando a sua inclinação. Junto à linha de água, será essencial prever a construção de uma pequena passagem superior (ou alternativamente uma pequena conduta, o mais naturalizada possível) prevenindo um eventual alagamento nas alturas de maior precipitação.

  Como já foi referido, no final do caminho situa-se uma zona mais larga, onde os utentes podem estacionar o carro para descarregar, mas também aqui deixar ficar o seu carro.

  O estacionamento foi pensado estrategicamente neste local para que se possa fazer uma melhor gestão do campo de visão, retirando o carro das vistas panorâmicas para Oeste; apesar de estar relativamente próximo da casa (o que pela perspectiva dos hospedes até pode nem ser desinteressante) a sua posição recuada em relação à casa e quase encaixada no terreno permite que se minimize a presença do carro.

  Embora já fora da área de intervenção, sugeriu-se um percurso / trilho mais estreito e íngreme, por debaixo das copas dos sobreiros e azinheiras mais adultas; seria um trajecto  mais intimo, para os amantes de trilhos da natureza, que poderiam dar uma volta em zonas mais frescas nas horas de mais calor.

  No que diz respeito aos pavimentos, propôs-se a utilização de saibro compactado no caminho principal e terra batida no caminho secundário, estabelecendo a hierarquização de caminhos: caminho público; caminho privado de acesso à casa; trilho de passeio.

 

5.  ORLAS E CLAREIRAS

 

  Definidos os traçados dos caminhos, analisadas as vistas e o relevo do terreno, passou-se à definição de espaços cheios vs. espaços vazios.

  Os espaços cheios são sobretudo as orlas arbóreo-arbustivas em crescimento semi-livre. Destaca-se a orla criada ao longo do limite junto ao caminho público, que tem a dupla função de ser filtrar as vistas e promover uma maior biodiversidade; dentro de algum tempo o objectivo era que as plantações pudessem vir a substituir em algumas zonas a vedação existente.

  Os espaços vazios são na verdade bastante diversos; um prado cortado de forma faseada, permite existirem diferentes alturas de vegetação e um desenho diferente deste "espaço vazio"; junto à linha de água, com o tempo irão surgir espontâneamente novas plantas que ali aproveitam a maior disponibilidade hídrica, cujos tons de verde contrastam com o das cores mais ásperas e secas da envolvente.

 

6.  VEGETAÇÃO

 

  O facto de uma espécie surgir espontaneamente ou ser há vários séculos cultivada pelo Homem num dado local reflecte a sua adaptabilidade às condições do meio ambiente. Este princípio, bastante simples, foi aplicado na escolha das espécies Por um lado, sabe-se que as necessidades de manutenção da vegetação autóctone são mais reduzidas. Por outro, grande parte das espécies que propomos trazem consigo logo à partida o carácter da paisagem alentejana.

  Para melhor compreensão deverá ser analisado o Plano de Plantação, onde estão descritas as espécies propostas, bem como a sua distribuição espacial. Na planta estão espécies tão características como o Sobreiro ou a Azinheira, ou maciços constituidos por Pinheiro-Manso conjugado com Tojo ou Giestas, entre outros. Tenta-se também recriar um pouco um olival, pelo compasso mais regular da plantação; destaca-se ainda a zona para plantação de aromáticas, que poderiam ser usadas na cozinha pelos hóspedes, durante a sua estadia. São várias as espécies propostas e várias as suas combinações, que permitiriam uma grande diversidade de cor, de flores, mas também de insectos, pássaros e outros tipos de fauna.

 

7.  SUSTENTABILIDADE DO PROJECTO

 

 Uma proposta sustentável para um espaço como este é aquela que consegue aliar a funcionalidade do espaço, a satisfação dos utentes e  manutenção dos sistemas vivos.

  Como já referido, o projecto tentou captar algumas das principais características da paisagem típica alentejana envolvente. Esta paisagem foi aquela que ao longo dos anos se desenvolveu, mudou, cresceu, amadureceu, e voltou a nascer. O mesmo acontece num espaço como este. 

  A escolha das espécies nativas permite trazer para o espaço a vegetação que exigirá menos manutenção, e que por isso permitirá também uma maior sustentabilidade financeira. Com uma adequada escolha e conjugação das plantas é possível conseguir um espaço estéticamente apelatio. Sabemos que um espaço bem mantido e agradável terá à partida mais possibilidade de agradar quem aqui estiver hospedado, e dá também o seu contributo essencial para o ciclo que é a sustentabilidade de um espaço. 

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